Pavio curto pega mal
Tenho constatado um fato curioso: as pessoas que apresentam destempero emocional, espumam de raiva, gritam nas discussões e giram a metralhadora 360 graus para acertar quem estiver no lugar errado, na hora errada, passado o momento de acesso, dariam tudo para apagar a cena de descontrole que protagonizaram.
Depois do estrago feito, entretanto, Inês é morta e pouco podem fazer para remediar. E o mais trágico da história é que, passado um tempinho, quando tudo parece ter se acalmado, a mesma pessoa que sofrera por ter tido atitudes impensadas volta a atacar. E depois volta a se arrepender. E não se emenda, pois é questão de tempo para vestir a máscara do Mr. Hide e voltar a se descontrolar novamente.
Quando o episódio se restringe ao ambiente familiar, tudo bem, pois a noite costuma ser uma excelente reconciliadora para os casais. Basta um toque aparentemente involuntário do pé, como quem não quer nada, uma virada que ultrapassa as fronteiras do meio da cama, pinta um clima, e tudo começa a se resolver. Embora haja famílias que acordem e durmam às turras, de maneira geral, como existe amor na relação entre pais, filhos e irmãos em pouco tempo o clima se apazigua e a harmonia se restabelece.
O enredo do filme sofre profundas alterações quando as personagens são estranhas umas às outras, ou não há amor na relação. Amarram a cara e passam a se estranhar. Há casos mais agudos, em que alguns nunca mais voltam a conversar e até se transformam em inimigos.
Aprender a esticar o tamanho do pavio é uma arte que precisa ser cultivada a vida inteira. Atitudes impensadas, destemperadas, precipitadas, de pessoas que não vacilam uma fração de segundo para rodar a baiana, podem produzir consequências muito graves na vida pessoal e no relacionamento do ambiente corporativo.
Levantar a voz e se comportar de forma exasperada quando se sentir contrariado ou não considerado por alguém, apenas para tentar impor um ponto de vista que, na quase totalidade dos casos, não acrescenta absolutamente nada na vida de uma pessoa, não é um comportamento sensato.
Assim como acontece com a maioria das pessoas, se você se deixar levar pela emoção descontrolada, guiado apenas pelo acesso de cólera, no dia seguinte, muito provavelmente, estará arrependido e batendo a cabeça na parede.
Por isso, como também preciso me vigiar o tempo todo, convido você para firmarmos um pacto - vamos aprender a contar até dez antes de comunicarmos uma decisão importante. E se, depois de refletirmos bem, acharmos que poderíamos aguardar mais um dia antes de tomarmos a atitude, principalmente se estivermos com muita raiva, revoltados ou indignados com o comportamento de alguém, esperemos passar a noite e, talvez, no dia seguinte nos surpreendamos com nossa nova disposição mais equilibrada e conciliadora. Vamos aprender cada vez mais a deixar para amanhã o que não deveríamos dizer hoje.
Revista Vencer - Edição 103
